quarta-feira, 19 de maio de 2010

7Q5 – INFORME


Solicitam-me mais informações sobre o papiro 7Q5, datado de cerca do ano 50, identificado pelo paleógrafo e papirólogo J. O’Callaghan como Mc 6, 52-53.

1. Lembro que, nos registros publicado em Cultura e Fé, n. 81, indiquei algumas fontes de informação, confiáveis e acessíveis. Continuei ligado à descoberta de O’Callaghan, por considerá-la marcante. Procurei inteirar-me das repercussões do Simpósio de Eischstätt, Alemanha, 1991, que a apoiou.
Só encontrei silêncio. Os especialistas, em suas publicações, quando muito faziam referências ligeiras e lacônicas, próprias para desacreditar o fato.
Parece não suportam o abalo causado, pela identificação, à arquitetura das datações tardias dos sinóticos, teorizada por eles. Um eminente professor, para defender suas construções teóricas, chegou a proclamar, em artigo, que não se poderia alterar a datação tardia e, por conseqüência, seria inaceitável a identificação do 7Q5 como Mc 6, 52-53.
Ressai, aí, confessadamente, o “a priori” anticientífico em que se fundam os opositores.
Parecem adotar a mesma conduta dos “cientistas” dos séculos XIV e XV, que recusavam a priori o entendimento de que o planeta Terra não era o centro do Universo.
Onde fica a “objetividade científica”?
Seu raciocínio pode ser formulado assim: O 7Q5 é de cerca do ano 50, segundo os paleógrafos. Ora, se ficar provado que se trata de um fragmento de Marcos, implode-se a datação tardia dos Evangelhos estabelecida por nós, exegetas modernos. Logo, não podemos admitir se trate de um fragmento de Marcos.

2. A informação nova que tenho, nova pelo menos para mim, é a de que, curiosamente, a identificação papirológica do 7Q5 como Mc 6, 52-53 foi confirmada matematicamente.
Por solicitação de O’Callaghan, o célebre professor Alberto Dou, doutor em matemáticas e membro da Real Academia de Ciências de Madri, submeteu a identificação papirológica a cálculos de probabilidade.
O resultado confirmou a identificação de O’Callaghan, endossada por Carsten Peter Thiede e pelas atas do Simpósio de Eischstätt. O 7Q5 não pode corresponder a outro texto que não seja o de Mc 6,52-53.

3. O cálculo de probabilidade exclui dúvidas sobre a identificação.
a) Numa primeira hipótese, o Professor Dou trabalhou somente com o número de letras do fragmento. Sem especificação das letras. A possibilidade de um arranjo diferente de Mc 6, 52-53 foi de 1 contra 36.000.000.000.000. Nula, portanto.
b) Em segunda hipótese, o trabalho realizado com letras contidas no fragmento concluiu que a possibilidade de arranjo diferente de Marcos continua praticamente nula. Seria de 1 contra 900.000.000.000.
c) A terceira hipótese, última possível, buscou esgotar todas as possibilidades de variação, adotando até uma esticometria mais ampla do que a do papiro em tela. A conclusão sobre a possibilidade, mesmo em um texto esticometricamente mais extenso, foi de 1 contra 430 bilhões. Uma vez em 430.000.000.000 de opções. Mesmo nessa hipótese mais adversa à identificação do 7Q5 com Mc 6, 52-53, a probabilidade de um “acaso” contrário permaneceu nenhuma.
d) Indo mais longe, examinou-se essa possibilidade nenhuma de acaso. Impôs-se, então, a conclusão definitiva: Se a “possibilidade nenhuma”, de 1 contra 430.000.000.000 absurdamente acontecesse, teria que se referir a um texto dependente de Mc 6, 52-53. Pressuporia a existência do texto de Marcos.
A matéria foi esgotada, matematicamente. O resultado implica a conclusão definitiva de que o 7Q5 é fragmento de uma cópia de Marcos. De conseqüência, o Evangelho de Marcos foi escrito antes do ano 50.

4. A segunda informação, que talvez não seja nova para quem acompanha a questão, é a de que J. O’Callaghan concluiu sua obra definitiva sobre a descoberta do 7Q5 e sua identificação com Mc 6, 52-53. Contém a pesquisa detalhada de dezenas de anos, sua consolidação e mais a contribuição de diversos outros cientistas. Inclusive de opositores. No epílogo se encontra a análise matemática do Professor Alberto Dou, apontada no item anterior. O título da obra: LOS TESTIMONIOS MÁS ANTIGUOS DEL NUEVO TESTAMENTO – PAPIROLOGIA NEOTESTAMENTARIA.

5. Ainda sobre a datação do 7Q5, lembro que foi apurada pelo paleógrafo Roberts, de Oxford, sem contestação de outros paleógrafos. Houve um crítico textual, não-paleógrafo, que se opôs, mas sua oposição foi liquidada. O professor F. Rohrhirsch descobriu que o crítico textual, não-paleógrafo, se fundara em um programa equivocado inserido no computador e o denunciou em livro. Programado equivocadamente, o computador utilizado pelo contestante só poderia oferecer resultados equivocados.

A identificação do 7Q5 como Mc 6, 52-53 é definitiva. A redação do Evangelho de Marcos não é de após 70 ou 80 como divulgam para o povo, mas de antes do ano 50. O trabalho consciente e sério prestado por J. O’Callaghan à ciência lança aos arquivos mortos a datação tardia dos Evangelhos. E, por conseguinte, sem pretensão apologética alguma, confirma os testemunhos externos dos escritores cristãos antigos. Ratifica a tradição dos Santos Padres, como, em exemplo, Justino e Irineu.
Eno Dias de Castro